Hoje em dia eu vejo o Hip Hop em Cabo Verde a formar as suas bases, há uma certa mobilização dos intervenientes para que o movimento não pare e para que a "febre" não baixe. Se por um lado temos, em Cabo Verde, um mercado limitado para a indústria musical, que não impede a produção e o aparecimento de novos artistas todos os anos, num país onde a riqueza musical faz inveja a muitos outros fruto da diversidade local e únicas, com os estilos, uns tradicionais e outros importados a "lutarem" entre si para se destacarem e agradarem aos ouvintes, por outro lado vejo o Hip Hop como um "outsider", embora a população dominante seja jovem, que está a lutar pelo seu espaço.
Nisto lembro-me do que antigamente se passou com o Funaná e Batuco. Segundo reza a historia, o género Funaná (ferro e gaita) e mesmo o Batuco eram práticas proibidas pelo regime português, considerados mesmo pagãos e desordeiros. Eram ritmos ligados a festas, festejos e também que marcavam um acontecimento importante usados para relatar (criticar) momentos ou acontecimentos dignos de revolta. Foi com coragem e muita persistência de algumas personagens do nosso universo musical que tais géneros hoje fazem sucesso e em alguns casos são a bandeira do país.
Não sendo um género original de Cabo Verde, o Hip Hop, no nosso caso Kriolu, é feito por caboverdeanos para caboverdeanos. Muita gente não compreende o Hip Hop e ilude-se em preconceitos que só atrapalham em vez de ajudar. O Hip Hop é um movimento, não se prende com as suas origens (Nova Iorque), mas adapta-se à realidade onde se insere.
Existe uma faceta no Hip Hop que é pouco explorada tanto pelos rappers, como pelos produtores e amantes/ouvintes deste género em Cabo Verde. Falo do Conhecimento (Knowledge). O MC é muito mais contador de historias do que cantor ou animador. E isso requer Conhecimento, Maturidade e Esforço Intelectual, que não é valorizado, para transformar o que vê no que diz/canta. Sendo um género de intervenção social mais do que um género comercial, o Hip Hop acaba por ser usado de forma errada tanto por artistas como por amantes ou criticos desta forma de arte.
Cabo Verde, neste momento, é um país que está com todas as condições para o "Boom" deste género musical, fruto dos problemas sociais, onde o Hip Hop vai "beber", que assolam as ilhas. O desemprego, a violência doméstica, a falta de civismo, a liberdade de imprensa, a juventude alienada, o adultério, a poligamia, a pedofilia, a violência, o crime, a corupção, o tráfico de droga, a pobreza, a fome, a inercia do governo e da população, são inúmeros os dados que um interveniente do Hip Hop tem ao seu dispor para analisar, estudar, compôr e transformar em arma de luta para consciencializar para tais problemas.
Um MC, um B-Boy, um DJ ou um Writer devem abordar cada tema com complexidade de forma a focalizar no ponto mais forte capaz de alertar para a situação que é exposta. Esse "Knowledje" faz parte da Cultura Hip Hop tornando os intervenientes numa espécie de antropologo, sociologos ou psicologos, esforçados em tentar ser cada vez mais eficientes nas suas intervenções, procurando instruir-se para instruir os outros.
Na cena internacional não posso deixar de destacar o Rapper brasileiro "Gabriel o Pensador", cujo nome defende automáticamente o meu ponto de vista, que procura sempre em todas as suas músicas ter muito cuidado na elaboração das letras e dos temas, quase sempre críticas socias, ("O que está errado (tudo), deve ser mudado"), notando uma preocupação extrema com a menssagem. Em Portugal o Rapper Valete diz numa das suas músicas que já lhe acusaram de ser demasiado erudito ou intelectual para ser rapper. Já Tupac Shakur tem poemas das suas músicas a serem estudadas em Universidades Americanas.
Para concluir o meu raciocínio e terminar esta intervenção, quero realçar que é essencial dar ao Conhecimento a importância que tem neste movimento, deixar de lado a banalidade e lutar para o reconhecimento social que o Hip Hop terá no seio da população do país, mais cedo ou mais tarde já que temos uma população jovem, que se identifica com valores jovens. O país só sai a perder ao banalisar ou desprezar o Hip Hop mediante a força que representa não só como um meio educativo, de oposição política ou delator social. É preciso apostar nos modelos sociais que estão a fazer uso deste Conhecimento, que são hoje aquilo que Cabral, Catcház, Eugénio Tavares ou Pantera foram Lutadores e Pensadores.
Khalo
Dodu na Hip Hop Kriolu
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